COMO EU ERA ANTES DE DESPERTAR


Toda a mudança requer sacrifícios e eu estou disposta a eliminar da minha vida todos os motivos que proporcionaram que minha luz se apagasse.


As vezes me sentia uma pessoa amargurada e não conseguia entender o porquê. Quando parava para pensar no todo, me vinha a cabeça: como uma pessoa que tem tudo pode não ser feliz? Tem uma família que ama, filhos, marido, casa, profissão, saúde, uma vida financeira estável. Como essa pessoa pode viver chorando? Com depressão? Amargura? Quanto mais eu penso pior eu fico. Por que me sinto assim? Por quê?
Sei que a vida é feita de escolhas, tento sempre fazer as escolhas mais acertadas no contexto, ou como um todo. Mas até que ponto tomar a decisão mais acertada em âmbito geral é a melhor decisão a ser tomada para mim, para a minha pessoa? Até que ponto deve-se pensar primeiro nos outros ao invés de pensar em si mesmo? Me questiono se estou fazendo a coisa certa. Talvez sejam essas decisões que estivessem me corroendo por dentro. Quando tomamos decisões privilegiando outras pessoas mesmo passando por cima de nossos sentimentos esperamos o mínimo desta pessoa, que seria consideração, respeito e reconhecimento do que foi feito. A famosa expectativa! Mas, quando isso não ocorre, o sentimento de ser desprezado me consome, sinto-me como uma grande ignorante, para não dizer burra, por deixar o meu bem-estar para ajudar outras pessoas a realizarem a vontade delas. E o pior de tudo é escutar: você fez porque você quis!!
Pior é que é verdade, eu fiz porque eu quis. Enquanto choro por ver meu esforço não reconhecido, ou melhor dizendo, por saber que todo o meu esforço foi em vão, não desejo esse sentimento a ninguém, é um sentimento de fracasso, de impotência. Eu passei por cima das minhas vontades, dos meus desejos em nome de um bem-estar melhor a todos e para quê? Para nada! Nada talvez seja um pouco de exagero, contudo algo deve ter sido aproveitado e aprendido, mas com certeza o fato de eu ter parado de pensar em mim, destruiu o brilho de felicidade que existia em mim. Não sei qual é o preço da felicidade, mas estou disposta a agarrar a oportunidade de reencontrar a felicidade e a paz de espírito com toda a minha força, pois sei que hoje em dia a tristeza me consome.
Escrevendo isso me fez lembrar de um amigo que hoje já não está entre nós, pois destruído pelas drogas, mas por ironia do destino, foi a pessoa que não permitiu que as drogas e cigarros entrassem na minha vida. Lembro-me sempre dele com um violão na mão tocando e cantando bob Marley redemption song. Muitas conversas tivemos e ensinamentos para uma vida.
Só Deus sabe o que passei e o que passo para conseguir realizar sonhos, ou simplesmente para ajudar alguém, mesmo passando por cima de mim.
Ontem se me perguntassem se eu faria a mesma coisa, eu diria sim, mas hoje já não tenho certeza, pois a minha recompensa está sendo ingratidão, falta de consideração, me sinto um lixo hoje, será que estou certa em pensar no outro primeiro? Me questiono profundamente.
É fácil ligar o botão dane-se, mas isso não resolve nada. É pura procrastinação.
Onde está o sorriso do meu rosto? Onde está o meu lado moleca? Onde foi parar minha autoestima? Onde está aquele brilho encantador de um dia?
Pensar, pensar, pensar, será que basta, ou chegou a hora de exteriorizar tudo o que estou sentindo? Me abrir, baixar a guarda. Ou quem sabe isso seria idiotice, uma burrice maior ainda?
Talvez a solução seja traçar uma meta, melhor dizendo, uma nova meta e traçar objetivos, caminhos para alcança-los?
Meu pai sempre dizia que cada ação tem uma reação, portanto, quem faz o que quer sem pensar, nem sempre recebe o que quer.
Penso que acabei de achar a solução para eu deixar de ser essa pessoa amargurada que me tornei. Vou eliminar da minha vida os motivos que proporcionaram que eu ficasse assim. Vou fazer uma reflexão sensata, do porquê de cada sentimento, de cada assombro. O que me incomoda e por que me incomoda?
Estou carregando uma carga de responsabilidade que não é minha e para quê? Se isso está me fazendo mau por que continuar?
Bom. Me sinto um pouco melhor, mas o nó no estomago continua. Ainda penso: não será egoísmo meu agir de forma diferente da que venho agindo? E se for, até que ponto o egoísmo faz bem, ou fará bem?
Acabo de lembrar daquele poema: vou me embora pra passargada... Poesia de Manoel bandeira.
Mas isso seria um refúgio, ou uma fuga da minha realidade, não soluciona meu dilema.
Penso que já nasci com esse instinto protetivo, por mais que eu tente ignorar as outras pessoas ou situações e pensar somente em mim, é mais forte do que eu, quando percebo, já estou envolvida em situações a ajudar alguém. Gosto muito dos meus amigos, mas sinto que ainda estou um pouco antissociável. Tenho que trabalhar esse ponto também.
Toda a mudança requer sacrifícios e eu estou disposta a mudar, doa o que doer, é a minha vida, minha saúde que está em jogo.
Brilha, brilha estrelinha...
Sempre fui uma pessoa iluminada, mas fraca por ter permitido com que ofuscassem a luz, a minha luz. Mas agora depois desse desabafo percebo que a chama ainda está acesa e eu vou lutar com muita garra e determinação para que a minha luz volte a brilhar.